quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O colo que não dei parte 2- O outro lado da saudade- Como ficou a minha vida nos dois anos da perda do meu filho.



Como muitos de vocês sabem eu tive um filho com uma rara cardiopatia chamada SHCE (Síndrome da Hipoplásia do Coração Esquerdo), que infelizmente viveu somente cinco dias, não resistiu ao primeiro procedimento cirúrgico.
No primeiro texto eu expliquei pra vocês que o Faelzinho na verdade foi fruto da minha segunda gestação , eu perdi um na barriga antes dele.
O motivo de escrever este texto é compartilhar com vocês um pouco da dura experiência que é ser mãe de anjo. Existiu uma Fernanda antes do Faelzinho e uma após a sua volta para os braços do Pai. Nós mães de anjos, até conseguimos falar da dor que é não ter nossos filhos, da saudade que sentimos deles, mas poucas vezes falamos sobre como é tentar sobreviver depois deles. No primeiro momento assumimos que não há mais vida. Eu assumi que não havia mais nada pra mim neste mundo, entreguei minha alma pra Deus e pedi que me levasse, eu precisava ficar com o meu bebe.
A Fernanda de antes, mesmo não sendo muito vaidosa, gostava de se arrumar tinha um riso fácil, era mais fácil de lidar (apesar de ser muito teimosa), enfim era muito mais alegre.
Perder o meu Fael (depois de ter perdido o primeiro bebê) foi algo que ainda não consigo denominar, simplesmente me arrasou. Posso comparar sem medo de errar que fiquei devastada como se houvesse passado um furação na minha vida, tudo saiu do lugar, nada estava certo. Não me parece certo por exemplo, uma mãe enterrar o filho, não acho antural.
Esse primeiro momento durou na minha vida pelo menos um ano.Um ano onde eu não vivia, não fazia nada, não me arrumava, não arrumava minha casa, nos primeiros cinco meses fiquei deitada e só levantava quando ia pra Ong.
Após esses cinco meses, voltei a trabalhar, desenvolvi síndrome do pânico, não conseguia sair sozinha de casa, meu marido mudou de horário no trabalho pra pelo menos me buscar no trabalho. Continuei a trabalhar porque a minha supervisora da época me ajudou bastante, e porque encontrei apoio em uma amiga de trabalho que também tinha perdido seu filhinho na mesma época que eu.
Ainda assim não fazia nada somente trabalhar, comecei a comprar mais vezes na semana pizza, e eu que odeio comida congelada, vivia comendo. Se para a sociedade ser uma boa esposa é lavar, passar , cozinhar , então definitivamente eu não era uma. Minha depressão atingiu níveis altos, mas não queria tomar os remédios receitados pelo psiquiatra, não queria me tornar depende.
Sempre lia relatos de algumas mãezinhas que além de perder o filho acabavam perdendo seus companheiros que não aguentavam tanta tristeza, pois também tinham a sua dor para lidar, e pensava que era muito abençoada, afinal meu marido estava sempre ao meu lado.
Engano meu, no final de quase um ano da perda do meu filho de noites inteiras sem dormir só chorando, ou na internet, me casamento começou a dar indícios de que estava capengando.
Tivemos muitos problemas e quase nos separamos. E pra falar a verdade naquele momento só fiz um esforço maior pra não acabar porque queria muito ter outro filho, e queria que fosse com ele.
Mas meu marido havia decidido que não queria outro filho, e ai eu tive que abrir mão do meu sonho, porque percebi que ainda o amava, e teria que esperar a hora certa pra tentar novamente.
Deus ouviu minhas orações e mudou o coração dele, e resolvemos em Dezembro de 2013 que voltaríamos a tentar novamente.
Engravidei e perdi com quase 5 semanas, e ai era o sinal vermelho, não tinha um motivo, já que tínhamos feito aconselhamento genético e estava tudo certo. Meus exames davam normal. Não entendia o porque mais uma vez me era negada o sonho de ser mãe. Mais um golpe e a tristeza aumentava, a saudade aumentava, mas já tinha aprendido a esconder mais meus sentimentos, a controlar mais os momentos de chorar, e como uma boa atriz no palco da vida aprendi a fazer a plateia sorrir, quando o meu coração insistia a não se curar.
Passou-se um mês e fomos comemorar o aniversário do meu marido (que faz aniversário em fevereiro ,no começo de março). E em abril descobri para minha surpresa que seria mãe novamente.
A gestação está correndo bem.A Raphaela nasce se Deus quiser dia 12 de Novembro . Tivemos algumas complicações, mas graças a Deus com repouso está tudo dando certo.
Este ano tivemos muitas turbulências na nossa casa, ainda fruto da tristeza e do vazio que sinto por não ter meu Fael comigo.
Esse ano dia 28 de Outubro ele faria dois anos de nascido, mas ao invés disto completará dia 01 de novembro dois anos da sua partida. E ainda tenho que ir ao cemitério para a exemução do seu corpinho... fechar mais um ciclo.
A vinda do meu filho me ensinou a ser mais humana, me importar de verdade com o outro, mas me deixou marcas profundas. Sei que jamais serei a mesma que era quando o carreguei no colo , quando o amamentei, quando o vi pela primeira vez, esta Fernanda ficou lá atrás num passado muito feliz que não existe mais.
A Fernanda de hoje tenta prosseguir, tenta aceitar o que não dá para mudar, tenta ser feliz, tenta reconquistar o que perdeu, mas continua prosseguindo.
A vinda da Raphaela tem me deixado bastante ocupada, e muito muito feliz também. Mas a Raphaela é única e tem um espaço só dela, que milagrosamente tem me feito renascer desde o dia que eu vi as duas risquinhas do positivo. Ela é meu sol após a tempestade, mas o Meu Fael também é único e nunca ninguém poderá tomar o lugar que pertence a ele.
Um filho não substitui o outro, amo os meus quatro bebes,( porque me considero mãe dos que perdi no inicio da gestação também) espero em Deus que Ele me conceda a honra de criar minha princesa, mas a saudade do meu príncipe ainda machuca muito.
Se você como eu perdeu um filho , sabe que agente tem saudade do que viveu e do que não viveu.
Não existe um manual pra sobrevivência, nem sei como agente continua viva, mas posso dizer que há como recomeçar, há como prosseguir, esquecer nunca esqueceremos, ao contrário parece que o tempo passa e o amor só aumenta.
Seus relacionamentos mudarão. Não só com os cônjuges. Algumas ficarão casadas e passarão por uma mudança enorme, terão que recomeçar todos os dias (Se você puder fazer isso o quanto antes sofrerá menos). Algumas não importam o tamanho do esforço que você fizer (ou não), simplesmente o seu relacionamento irá desmoronar, perder um filho é tão difícil para a mulher quanto para o homem.
O que você deve saber é que mesmo que pareça que não , e que você como eu brigue com Deus, se revolte com Ele, ainda assim Ele estará de carregando, fale com ele mesmo que seja pra brigar como eu fazia ( e confesso ainda faço), porque eu creio que ele recolhe suas lágrimas e te carrega no colo.
Eu sei que se estou ainda em pé é porque o Senhor me carregou.
Até a próxima postagem, deixem seus comentários.

By Fernanda da costa Xavier

*Texto de autoria de Fernanda da costa Xavier, nunca esquecer de mencionar a fonte e autoria do texto se for utilizar

Se já chegou até aqui leiam também o texto que o meu marido fez contando como é e foi pra ele o outro lado da saudade.Lições para pais de anjo.
Acesse:

http://vossavateologia.blogspot.com.br/2014/10/licoes-da-vida-para-pais-de-anjo.html





3 comentários:

Unknown disse...

Fe , parabéns pela sua força eu sei como foi dificílimo para vc e para o Rafa tudo que passou e sei mais sei que vcs são seres humanos incríveis e tive um grande privilégio na minha vida que foi de conhecer e conviver com vcs. A dor de perder um filho destrói o coração mais a força de ama-lo todos os dias com a mesma intensidade reconstrói com uma base ainda mais firme sei que a Raphinha virá e trará em seu sorriso o sorriso dos seus 4 bebes e isso vai ajudar a reconfortar seu coração todos os dias e cada segundo q ela sorrir. Parabens pela sua força e pela pessoa maravilhosa q vc é

Kathlin Fernandes

Marilia disse...

Oi Fê. Sempre que eu leio alguma mensagem sua sobre o Faelzinho eu fico tão angustiada. Me coloco no seu lugar mas é óbvio que não se compara a viver o que vocês viveram. Peço a Deus que continue fortalecendo a você e ao Rafa, juro, não sei se eu seria tão forte numa situação dessas. E glorifico a Deus porque a Rafa está se desenvolvendo tão saudável e sua gestação está sendo tranquila. Que Deus te abençoe muito nesse finalzinho de gestação. Creio que a Rafa vai nascer em paz e vai trazer muitas alegrias, daqui a pouco você vai encontrar lápis de cor dentro do ventilador ou o seu celular dentro do armário das panelas kkkk. Bjs querida. Fique com Deus.

Unknown disse...

Tenho muito orgulho de você